Predadores: A Obsessão - Capítulo 32

Bárbara, Dominique e Nicolas obtém informações sobre o culto

No último capítulo, Bárbara investigou o culto da justiça e descobriu que estavam entregando pessoas aos predadores, quase como um sacrifício.

Agora, com um foco para sua raiva, Bárbara se junta a Nicolas e Dominique para obter informações sobre as atividades do culto, não importando o custo a ser pago.

Desenho monocromático. O desenho mostra um homem sentado em uma cadeira, com os braços para trás e com o corpo amarrado por cordas. Ele está com um saco na cabeça, impossibilitando de ver seu rosto. Agachado ao lado dele com uma mão no ombro do sequestrado e de costas para a imagem está Nicolas, um homem vestindo terno, de cabelo curto e utilizando uma corda de forca ao redor do pescoço. Ele está com o rosto próximo do ouvido do homem sequestrado. No canto superior direito há o número trinta e dois para indicar o capítulo.

Conforme o combinado com Nicolas, Bárbara passou a monitorar o local após o expediente. Era uma atividade entediante, porém muito melhor que ficar no apartamento, roendo as unhas, remoendo a si e incapaz de fazer nada. Tinha um objetivo, um alvo, e o mais importante, um culpado.

Antes, responsabilizava o originador do território hospitalar pela morte de Igor, mas com o extermínio do predador, não havia mais a quem culpar. Poderia voltar sua raiva aos predadores em geral, no entanto eram algo tão abstrato e incerto que não servia para lhe acalmar. Tudo mudava com o culto entrando na história. Não somente eram um alvo tangível e humano, também estavam do lado dos predadores. Inclusive, tinha certeza de que eles foram os responsáveis pelo rapto de Igor, suspeitaram que ele sabia de algo e fizeram uma queima de arquivo. Era a única explicação plausível.

No sábado, após dois dias observando um lugar que não exibia movimentação alguma, resolveu mandar mensagem para Elisa, perguntando se o encontro do dia ocorreria. Não recebeu resposta, tinha até certeza que teve seu contato bloqueado. Como descobriria para onde foram? Talvez devesse abordar outro cultista na rua e pedir informações. Não, não funcionaria se tivessem o mínimo de organização e uma lista de bloqueados. Rodar a cidade inteira de moto também era uma possibilidade, só teria que estar disposta a encontrar, em plena capital, uma construção onde um grupo suspeito se reuniria em um dia que ela não sabia qual em um horário que não fazia ideia. Ou seja, inviável.

O final de semana passou engatinhando, e a segunda-feira foi um verdadeiro arrasto. Tudo na sua cabeça era sobre o culto. Pesquisava no celular sobre eles, entrava em grupos de redes sociais, perguntava em locais estranhos da internet, mas nada ajudava. Sempre mencionavam para ela entrar em contato com um dos pregadores que suas dúvidas seriam tiradas. Chegou em casa nesse dia com vontade de agarrar um dos devotos na rua e tirar as respostas no soco.

Antes que chegasse às vias de fato, recebeu uma mensagem no celular.


Maurício (Gerente)

Boa noite, Bárbara… Notei que nos últimos dias tu não parece bem. Está tudo certo?


Bárbara

Boa noite. Tudo bem sim. Estou apenas em choque com o desaparecimento de Igor.


Maurício

Consigo te dar dois dias de folga se precisar.


Quase riu. Dois dias de folga seria o suficiente para fazê-la enlouquecer, estava em um beco sem saída. Não, não era sem saída, ainda tinha uma chance. Mandou uma mensagem agradecendo pela oferta e dizendo que pensaria no assunto. Refletiu sobre mandar uma mensagem para Fernando, talvez ele conseguisse contato com um cultista e, com isso, descobrisse mais informações. Na pressa, em vez de fechar a conversa, tocou no nome de Maurício e o aplicativo abriu seu perfil.

Não costumava trocar mensagens com o gerente, e por isso não tinha visto que trocara a foto. Antes, era uma todo elegante de terno em algum evento que Bárbara não se importava, e passou a ser de um grupo de pessoas. Havia algo estranhamente familiar no peito dele. Ampliou a foto e deu zoom no tronco do homem, reconhecendo o símbolo: uma balança romana.

Resistiu a todos os impulsos de jogar o celular na parede. O filho da puta era parte do culto! Apertou o aparelho com força enquanto mantinha os olhos na imagem. Não, calma. Nem todo mundo envolvido devia saber dos predadores, era bem capaz de Maurício ser um frequentador comum, deixado de fora de assuntos escusos. Mesmo assim, certo que possuía algumas informações importantes. Precisava tirar elas do gerente, e até tinha um plano para isso.

No dia seguinte, Bárbara foi de moto para o trabalho e pagou, a duras penas, as horas de estacionamento. Talvez pudesse mandar a nota à Nicolas e pedir reembolso? Tinha a impressão que dinheiro era a última preocupação do cara.

Focou no trabalho o máximo que podia para não levantar suspeitas, mas ainda assim não foi capaz de evitar olhares na direção de Maurício. O gerente tocava seu dia normalmente, fazendo seja lá o que gerentes fazem, nunca se interessou muito pelo cargo e até onde sabia o trabalho dele era conversar com outros o tempo todo, pedir favores e cobrar funcionários.

Teve que estender um pouco seu horário, e tomaria bronca por isso depois, mas era necessário para sair junto com Maurício. Assim que o gerente começou a ajeitar suas coisas, Bárbara bloqueou o computador e desceu apressadamente pelas escadas, bateu o ponto e foi até o estacionamento. Subiu na Kawasaki e saiu do local, esperando próxima ao estacionamento da empresa, que tinha vagas apenas para cargos gerenciais. A Santa Fé de Maurício saiu momentos depois, e Bárbara seguiu-o de longe.

Foi complicado. Um por ser horário de pico, e outro porque ela nunca, e ainda bem que era o caso, precisou perseguir alguém sem ser notada. Usou a vantagem da moto para manobrá-la para perto sempre que sentia estar afastada demais, e tentava ficar em outra via para evitar suspeitas. Ao entrarem em uma área residencial, tornou-se mais fácil manter o foco na SUV, porém mais difícil de se esconder. Por isso mesmo Bárbara aumentou mais a distância entre eles.

A região era repleta de casas de dois andares, em alguns casos até três. E quando tinha apenas um andar, o terreno era espaçoso o suficiente para acomodar, no mínimo, mais duas residências. Quase todas exibiam um pátio com flores e árvores, algumas até frutíferas. As casas eram protegidas por grades altas com cerca elétrica e até mesmo cercas concertinas. Além disso, muitas ainda tinham também um sistema de alarme.

Seguiu Maurício até que ele entrou em uma casa de andar único. Foi em direção à outra rua, deu a volta na quadra e, por fim, passou na frente da residência do gerente. Parou por um momento, apenas o suficiente para tirar algumas fotos da fachada e da garagem aberta. Mais fácil do que o esperado.

No dia seguinte, parte da rotina se repetiu, mas em vez de perseguir o chefe, ultrapassou-o e seguiu sozinha. Dirigiu rápido pelas ruas, cortando carros, ônibus e caminhões, tudo para chegar o mais cedo possível. Quando chegou, manteve-se afastada da residência de Maurício e passou a mexer no celular. Quase cinco minutos depois, a SUV apareceu na rua e entrou na garagem. Assim que o portão começou a fechar, ela disparou uma mensagem para Nicolas.

Não ficou para ver se deu certo ou errado, apenas voltou para casa. E de lá foi ao farol. Esperava que estivessem todos reunidos no topo do farol, mas encontrou-os do lado de fora, na grama. Desceu e viu Maurício amarrado por diversas cordas bem apertadas em uma cadeira de plástico, próximo a ele estavam Nicolas e Dominique. Se aproximou dos dois.

— O quê… Bárbara? — O gerente perguntou, assustado. — O que está acontecendo? Onde estamos? Quem são os dois?

— Cala a boca. — Ela chegou perto da cadeira, colocou as mãos nos braços de Maurício e fulminou-o com o olhar. — Eu sei que tu faz parte do Culto da Justiça. — Sem enrolação, era melhor ir direto ao ponto. — Eles fizeram Igor desaparecer, ouviu? É tudo culpa deles! E tu vai me dizer onde estão se encontrando.

Os olhos dele se arregalaram enquanto passavam dela para os companheiros.

— Não, ninguém lá faria algo assim. Nós só nos reunimos de vez em quando e conversamos. Não é nada perigoso.

— Tu não sabe disso, mas o culto é cheio de filhos da puta.

— Está errada! — A voz se elevou. — Eles são bons, estão melhorando as pessoas, fizeram isso comigo. Foi graças a muitas conversas com eles que demiti Eder.

— Como se isso significasse algo! — Apertou com força os braços do gerente, enterrando as unhas na sua carne. — Onde estão se encontrando?

— Não vou dizer. — Maurício mirou Nicolas e Dominique. — Vocês vão ferir os outros membros, não posso dizer.

Ela soltou o chefe e recuou alguns passos, ficando ao lado de Nicolas. Queria jogar toda a sua raiva contra Maurício, mas seria errado. Ele era um peão, apenas mais um fervoroso no meio de tantos. Precisava guardá-la para os verdadeiros culpados.

— Posso intervir? — perguntou Nicolas, a corda apertada no pescoço dificultava sua fala.

— Faça como quiser.

Ele aliviou o aperto no colarinho e aproximou-se de Maurício.

— Você se lembra como foi preso logo que chegou aqui? — perguntou Nicolas, recebendo em resposta apenas um aceno positivo do interrogado. — Minhas cordas podem fazer muito mais que isso.

Uma delas surgiu em pleno ar, era fina e parecia frágil. Enrolou-se no pescoço de Maurício, não parecia apertar, mas a cada volta, o homem ficava mais pálido, como se esperasse a morte a qualquer segundo. Bárbara engoliu em seco e estava prestes a puxar Nicolas para longe do gerente. Antes que fizesse isso, a corda desapareceu.

— Eu poderia te enforcar em um piscar de olhos. Seria inútil, claro, ficaríamos com um cadáver e nenhuma resposta. — Nicolas deu a volta na cadeira, ficando nas costas de Maurício, então olhou na direção de Bárbara e Dominique e levou o dedo indicador aos lábios. O que ele estava pensando? — Te raptar foi fácil, bastou uma foto de sua casa. É bem fácil de conseguir hoje em dia, basta achar alguém relacionado, buscar em algumas redes sociais e pronto, lá está.

Era uma mentira. Bárbara teve que levar Nicolas até a frente da casa de Maurício para que o transporte funcionasse depois.

— Poderíamos fazer o mesmo com Diego. É mais simples até, basta esperá-lo fora do colégio Anchieta e pronto.

Toda a cor deixou o rosto do gerente, a respiração se tornou audível e entrecortada, antes era medo apenas por sua vida que sentia, o puro instinto de sobrevivência. Colocar o filho no meio daquilo gerava algo diferente, um pavor único. Fosse outra pessoa, talvez o blefe soasse óbvio, mas a frieza na voz de Nicolas, a naturalidade com que tocava no assunto e o desconhecimento de Maurício sobre o que estava acontecendo adicionavam combustível para os pensamentos mais terríveis.

— Também tem sua esposa, Bianca. Ela está fazendo um MBA atualmente, não? Saídas de faculdade no período noturno sempre são perigosas. Lucas é outra possibilidade, um pouco mais difícil e imprevisível por ser guia turístico, mas precisamos apenas ser pacientes. Alberto é provavelmente o mais fácil, as pernas frágeis e velhas dele não o levam a muitos lugares, então basta entrar na casa a qualquer momento.

Mesmo sabendo que era um blefe, mesmo sabendo que impediria Nicolas caso ele sequer cogitasse fazer isso, Bárbara não conseguiu evitar o frio que gelou os ossos. Acreditou naquelas palavras, acreditou que, dada a oportunidade, ele usaria seus poderes na família inteira de Maurício. Não eram ameaças vazias, Nicolas pesquisou cada um. Eram informações simples de se obter, mas reuni-las em um dia e usar contra alguém significava que aquele homem trabalhava com essa possibilidade desde o início.

— É esse tipo de gente que você está ajudando, Bárbara? — gritou Maurício, a voz falhando no meio da frase. Ele se debateu na cadeira, mas não conseguiu nada. — Está mesmo ameaçando minha família?!

Ela desviou o olhar e buscou algum auxílio em Dominique. A idosa tinha os punhos cerrados e fitava o mar com o cenho franzido.

— Nicolas está fazendo o certo — sussurrou para a motoqueira. — É um blefe, e é pelo bem de todos os outros.

— Bárbara está comigo desde o começo — disse Nicolas, a voz ainda impassiva. — Já fizemos muito pior que isso. Alguns corpos a mais ou a menos não vão fazer diferença. — Ele deu a volta na cadeira, ficando de frente para Maurício e tapando a visão das duas atrás de si. — Você escolhe. Vai falar para nós agora, ou vai falar quando os cadáveres de sua família estiverem empilhados ao seu redor?

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