Predadores: A Obsessão - Capítulo 9

O grupo sai vitorioso, e Nicolas começa a pensar nos preparativos das próximas incursões.

No oitavo capítulo o grupo encarou o originador, o predador que criou o território do metrô. Sem ter como recuarem, Fernando apoiou Bárbara enquanto a mulher aguentava os poderosos ataques do monstro. Ao final, conseguiram derrotá-lo e com isso causaram o colapso do território.

Desenho monocromático. O desenho mostra Nicolas, sentado em uma cadeira de escritório e com uma corda com nó de forca pendendo de seu pescoço. Ele está observando uma pequena pílula entre seus dedos. Ao seu lado, está uma escrivaninha com notebook em cima. No topo esquerdo da imagem há o número nove para indicar o capítulo.

Surgiram no interior do farol. Nicolas não perdeu tempo e deitou Dominique no chão, trocando um breve olhar com Fernando. O peito da idosa subia e descia com dificuldade, a respiração era entrecortada e o braço esquerdo estava mole e dobrado em um ângulo estranho. De tudo isso, foi a perna que mais chamou a atenção de Fernando. Na canela, próximo ao joelho, a pele se abria em uma vermelhidão de sangue e músculos, e no meio disso tudo despontava algo reto e quebrado com tons fracos de vermelho misturados ao branco. O padeiro tentou lembrar-se qual era o nome do osso na canela, mas logo chacoalhou a cabeça e abriu sua mochila de entregas. Não era médico ou cirurgião para decorar detalhes de anatomia, sua cura era diferente, e seria dolorosa para ele.

Pegou um dos alimentos e aproximou-se de Dominique, ainda desacordada. Deu tapinhas no rosto dela enquanto gritava por seu nome. Tinha uma técnica para fazer pessoas engolirem coisas enquanto inconscientes, não tinha? Por que nunca pensou em fazer algo tão básico quanto aprender primeiros socorros antes?!

— Temos que levar ela para um hospital! Vai se quebrar todo se curar isso! — disse Bárbara.

— Fernando é mais eficiente que qualquer tratamento.

— Eu vou quebrar teu braço para tu ver como dói. Quero ver recusar hospital depois disso. — Bárbara se aproximou de Nicolas, ficando com o rosto a centímetros dele.

— Fiquem quietos! — gritou Fernando. — Eu faço isso, vai dar certo.

Toda a gritaria e desespero serviu para acordar Dominique, que abriu os olhos devagar e emitiu um gemido. Fernando aproximou o pão de sua boca.

— Por favor, coma. Vai ficar tudo bem.

Ela obedeceu sem falar nada, a dor deixando de lado qualquer cerimônia ou hesitação enquanto mordia o alimento. Fernando temeu que não fosse funcionar, pois até a última mordida, nada acontecera. Foi só depois de alguns segundos que começou o processo de cura. A dor veio com um estalo, começou nas costelas já quebradas, e então se espalhou pelo restante do corpo. Ele sabia que ia ficar pior e sua consciência não resistiu a fratura no braço e o quebrar da perna.

Quando voltou ao mundo desperto, se é que podia chamar aquele lugar por esse nome, Dominique e Bárbara estavam ao redor dele. A idosa estava recuperada, com as pernas da calça manchadas de sangue, mas inteira. Bárbara não tinha nenhuma mancha de ferrugem no corpo e as rachaduras desapareceram. Fernando agradeceu por isso, não queria passar por outra sessão de dor tão cedo. Seu corpo já estava quase bom, tudo ainda doía, porém não parecia mais que fora atropelado por um ônibus da Soul.

Quase uma hora depois, sentiu que conseguiria se levantar e voltar para a padaria. As mulheres lhe fizeram companhia durante o processo, conversando sobre amenidades do dia a dia.

— Acho que devemos voltar — disse Fernando, levantando enquanto apoiava a mão na parede.

— É, deve estar tarde. — disse Bárbara. — Vou acordar podre amanhã.

— Eu vou acordar bem tranquila. — Dominique abriu um sorriso. — Nada como os benefícios da aposentadoria.

— Nem me fala! — Bárbara riu. — Já, já eu chego lá.

— Esse teu “já, já” vai levar muitos anos — provocou Fernando.

Bárbara olhou na direção de Nicolas. O líder do grupo estava do outro lado da sala, olhava para o horizonte há algum tempo. Ela suspirou, foi até ele e trocou algumas palavras de despedida. Em seguida voltou até Fernando e se preparou para dar um abraço.

— Não, não as costelas! — avisou Fernando.

— Verdade, desculpa. — Ela parou com os braços no ar, os levou até o lado do corpo e então lhe deu um beijo na bochecha. — Obrigada pelo apoio lá.

— Só fiz o que achei certo — respondeu Fernando.

— Nem todo mundo faz o certo. Enfim, até mais!

E com isso, Bárbara desapareceu.

— Você ajudou bastante. Até peço desculpas, se eu fosse mais cuidadosa não teria quebrado nada — disse Dominique, colocando levemente a mão sobre o ombro de Fernando.

— Que isso, estou aqui para cuidar de todo mundo. E tu também ajudou, todos ajudaram.

A idosa sorriu e lhe deu um beijo no rosto.

— Tchau.

Ela se aproximou de Nicolas, o abraçou e se despediu com um beijo no rosto, desaparecendo em seguida.

O líder olhou em sua direção e se avizinhou.

— Você deveria voltar e descansar — disse ele.

— Eu vou, só estava esperando para me recuperar. — Fernando moveu os ombros, a dor tinha aliviado um pouco mais. Deixou-se sorrir. — Fora daqui eu não conserto ossos quebrados.

— Entendo.

— E tu, não vai voltar? — perguntou Fernando.

— Vou.

— Tá… — Fernando olhou para baixo, então de volta para o rosto de Nicolas. — Eu sei que disse algumas coisas pesadas para ti, e saiba que não me arrependo! Mas vencemos um originador hoje e destruímos um território, as pessoas vão ficar mais seguras. Obrigado por isso.

— Eu que deveria agradecer por acreditarem em mim. Você, Bárbara e Dominique são ótimos. — Nicolas esticou a mão.

Fernando estranhou o gesto, mas a apertou. Se contentaria com aquele elogio vindo do homem que demonstrava tanta emoção quanto uma pedra.

— Iremos nos reunir de novo em breve? — perguntou Fernando.

— Vou procurar outro território, mas não se preocupe, te mantenho informado.

Pensou na sua padaria e nas tarefas que faria quando chegasse lá. Tinha que terminar os pães que ficaram descansando. Ia ser uma noite longa e dolorida, mas daria conta. Sentia-se com mais energia do que nunca. Fechou os olhos e quando os abriu, voltou ao trabalho.

***

Nicolas voltou para sua casa, em específico para o escritório. O cômodo estava bem cuidado como sempre, deixar lixos no local de trabalho era uma das inúmeras maneiras de criar um ambiente propício ao fracasso. Sentou-se em frente ao notebook e o ligou. Nos poucos segundos em que aguardava, tirou do bolso uma pílula branca e a apertou de leve entre polegar e indicador. Logo deixou a cápsula de lado e navegou pelas pastas sobre os predadores. Achou o diretório com o título de “Território do Metrô” e o abriu. Diversos documentos ali detalhavam o que viu no território, cenário, paisagem, habitantes e predadores.

Escreveu um relatório detalhando sobre a visita final ao lugar. Obtiveram sucesso em destruir o originador, mas o que realmente aprendeu? Não foi muita coisa, mas, pelo menos, descobriu mais sobre seus novos ajudantes. Eram capazes, ainda que pouco eficientes. Precisaram apenas de um empurrão com a segunda habilidade de seu vestígio para seguirem em frente, com exceção de Bárbara. Ela devia ter alguma imunidade a esse tipo de coisa. Só esperava não ter que usar isso sempre.

Anotou a nova descoberta sobre os territórios serem capazes de modificar-se para impedir a fuga deles e também para atacar. Foi uma boa estratégia reunir um grupo de habilidades variadas, ainda que tenha encontrado eles por sorte, caso contrário teriam morrido em alguma parte do metrô. Se comparado com o território da rua infinita, em que o terreno era mais aberto e a fuga mais fácil, este foi complicado. O originador, no entanto, acabou sendo parecido. No primeiro, precisou apenas encontrar a criança certa, a criança de verdade, para enforcar. No metrô, a situação foi a mesma, só passou por uma espécie de guardião antes. Talvez os originadores fossem limitados em suas capacidades. Ou talvez ainda estejam evoluindo, conforme aquela criatura mencionou.

O relógio no computador sinalizou oito horas da manhã. Suspirou e deu uma olhada nas notícias mais recentes. Encontrou apenas uma, em um site de notícias da capital, sobre pessoas consideradas desaparecidas ressurgindo. Certamente algum familiar do jornalista fora raptado, caso contrário só veria algo do tipo no meio do dia e olhe lá. Fechou o notebook e se preparou para dormir.

Procuraria novos territórios quando acordasse. E talvez trocasse uma ideia com um antigo parceiro para disponibilizar uma fuga mais confiável aos outros. Fernando não os deixaria se arriscar tanto se não houvesse uma forma fácil de fugir.

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