- Guilherme Lopes Lacerda
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Predadores: A Obsessão - Epílogo
Epílogo do primeiro livro

Uma casa de madeira abandonada e pequena, com a tinta descascando, tábuas rachadas e as persianas emperradas por estarem fechadas há tanto tempo. Um local que até mesmo pessoas em fuga evitavam, exceto se soubessem que não poderia haver nenhum perigo lá dentro, como era o caso de Pietro.
Por isso mesmo a casa fora selecionada para descanso, ele sabia muito bem que ninguém se arriscaria em uma estrutura instável e medonha. Mesmo sem conforto algum, era um bom local para preparar os próximos passos.
Pensou em como foi complicado escapar da Grande São Paulo, no quanto a região se encheu de predadores pouco tempo após Nicolas quebrar as barreiras entre os mundos. Era como se estivessem em sincronia, e bastou um saber que era possível para os demais fazerem o mesmo. Teve que dar tudo de si e de seu vestígio apenas para fugir de lá.
E não foi só no Brasil que ocorreu, foi no mundo inteiro. Nos Estados Unidos e Canadá, um predador baleia de proporções continentais surgiu no mar e saltou em direção à terra. Tsunamis devastaram parte da costa, e o corpo do predador fez o resto do trabalho, afundando quase metade do continente.
Em outros locais, o estrago se deu pela quantidade em vez do tamanho. Houve resistência, mas quando seu inimigo cria a base dentro de sua capital, transformando áreas densamente populosas em um ninho, é difícil se organizar. Além do mais, os originadores ainda possuíam sua habilidade de distorcer a realidade. Junte isso ao dano físico causado e está feita a fórmula do desastre.
O único lado bom, se é que dava para ser chamado disso, era que os vestígios podiam ser usados no mundo humano. Fora isso, só piorou. Não podiam mais se transportar entre territórios e locais do mundo, tampouco ter a certeza de que estavam seguros em casa.
Governantes abandonaram seu povo, insurreições surgiram para acabar com o pouco de Estado que havia, e tudo isso enquanto uma ameaça maior batia à porta. Teriam todos morridos se não fosse a necessidade dos originadores de estabelecerem um território e fixarem-se a ele. Isso criava uma chance de fuga e zonas seguras, mas não a longo prazo. Os territórios se expandiam aos poucos. Talvez em uma década ou duas o mundo inteiro fosse inseguro.
Olhou a bateria do celular marcando 50% de carga. Estranhamente, o caos atual não impediu energia elétrica, GPS e internet de continuarem funcionando, ainda que limitados a locais específicos. Era importante achar uma tomada funcional enquanto rumava para o sul.
Havia lá um foco de resistência, assim como em tantos outros lugares. O líder daquele era um portador assim como Pietro, e era mais seguro assim. Viu o que fizeram com outros, quando capturaram um portador capaz de produzir calor e usaram-no como uma fornalha para mantê-los aquecidos e cozinhar sua comida. Testemunhou um produtor de água ser preso em um tanque com o único objetivo de fazer mais e mais água. Acompanhou um imortal ser usado de escudo e isca para predadores, seu corpo sendo despedaçado a cada confronto apenas para remontar-se no dia seguinte e ser enviado ao combate em um ciclo sem fim.
Ter acesso a toda a informação do mundo em um celular era algo muito tentador para deixarem passar. Ele seria preso e usado sem qualquer remorso, tudo em nome do bem-estar comum.
No sul, com Fernando, Bárbara e outros que se reuniam por lá, imaginou que teria um futuro melhor. Isso se chegasse com vida. Haviam predadores no caminho, havia Magno estabelecendo controle sobre algumas regiões, e também outros portadores tão ou mais assustadores que o cultista, com seus poderes beirando o de um originador. Mesmo que enxergasse movimentos em tempo real, duvidava ser capaz de evitar todos os perigos.
Seus olhos pesaram enquanto descansava. Precisava dormir, nem que fosse por uma ou duas horas, mas tinha medo. Medo da vulnerabilidade que isso lhe trazia. Medo de acabar sonhando com um mundo menos escroto e acordar sabendo que, na realidade, só ia ficar pior.
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