Predadores: A Obsessão - Capítulo 6

Com o grupo completo, a verdadeira exploração do metrô começa

No último capítulo conhecemos Dominique, seu solitário fim e póstumo despertar em uma estranha floresta que se revelou um território muito agressivo. Com a ajuda de habilidades recém-descobertas e o surgimento de Nicolas, a idosa conseguiu sobreviver à provação e voltar para casa.

Desenho em preto e branco. Ele mostra um ser humanoide agachado com duas mãos no chão e olhando para o espectador. Ele não possui roupa ou órgãos sexuais, é magro e a parte de sua cabeça acima do nariz não existe. Ao redor da criatura está um vagão de metrô vazio, enferrujado e desgastado pelo tempo. No topo da imagem há o número seis para indicar o capítulo.

Menos de um dia antes, Fernando fora colocado em um grupo no Whats chamado Predadores, onde também estavam Nicolas e Bárbara. Uma conversa rápida aconteceu para marcarem um encontro e, conforme o combinado, o padeiro foi lá no horário apenas para encontrar o farol vazio. Minutos depois, Bárbara chegou.

Então lá estava ele, procurando uma distração ao observar os arredores enquanto aguardava a chegada de Nicolas. Alguns metros ao seu lado, Bárbara fazia o mesmo. Não falaram nada além da costumeira troca de cumprimentos, e isso o deixara nervoso. Ela parecia uma daquelas pessoas esquentadinhas, sempre de cara fechada e mal humor. Sabia muito bem que o certo a se fazer era deixá-las quietas.

Com o canto do olho, viu a mulher tirar o celular do bolso pela terceira vez no último minuto. Não a culpou, queria fazer o mesmo para se distrair, mas a falta de sinal o impedia. Nem ao menos conseguiam acompanhar os minutos passando, visto que entrar em um território era o suficiente para embaralhar as horas, jogando o relógio do aparelho para frente e para trás constantemente.

— Para alguém metido a certinho, ele tá atrasado — disse Bárbara, bufando um pouco em seguida. — Fiz questão de aparecer no horário marcado e nem sinal do cara. — Ela olhou para Fernando. — Há quanto tempo tu tá com ele? Isso sempre acontece?

— Normalmente Nicolas chega antes, e “estar com ele” é um termo forte. — Fernando se virou de costas para o vidro e olhou na direção da mulher. — Tenho algumas semanas a mais que tu nisso tudo, mas só fiz algo relativo aos predadores em uns dois ou três dias.

— Quer dizer que o único que sabe o que tá fazendo aqui é ele? — Bárbara levantou uma sobrancelha.

— Isso mesmo.

— Que nhaca, hein? — Ela checou o celular mais uma vez. — Só espero que ele não demore muito, tenho que trabalhar amanhã.

— Teve problema com o… dia fora?

Bárbara levantou os olhos para ele por um momento antes de baixá-los ao celular mais uma vez.

— Nem quero falar sobre isso.

Deixou a conversa morrer por ali, sabia muito bem quando falar e quando ficar quieto. Virou-se para a janela e voltou a encarar o horizonte. Ficou um tempo visualizando o nada enquanto pensava em como ajustar seus dias a essas idas aos territórios. Como Nicolas se organizava?

— Como foi contigo? — perguntou Bárbara com a voz mansa. — Como acabou em um território?

— Não sei explicar. — O homem botou a mão no peito, sentindo um desconforto na pele. — Sei que fui assaltado, levaram minha moto e tomei um tiro.

— Então tu meio que… morreu também. — A voz da mulher se reduziu a um sussurro. — E depois?

— Depois eu estava no metrô e encontrei Nicolas.

— Não isso, a sua moto. — Bárbara se aproximou um pouco. — Estava inteira também?

— Sim, na garagem como se nada tivesse acontecido. — Deu um sorriso azedo. — Não sei o que pensar disso.

Antes que a conversa continuasse, Fernando notou uma movimentação do lado de fora do farol. Nicolas se aproximava da entrada da construção. E acompanhado.

— Veio ele e mais alguém — disse Fernando.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Mais um fudido?

— Está querendo dizer que somos fudidos também?

— Claro, por qual outro motivo estaríamos aqui?

Ficou em silêncio, não porque pensava a mesma coisa, mas porque sabia que convencer alguém era complicado, ainda mais quando falavam com tanta convicção e não eram chegados. Conseguia entender o ponto de vista de Bárbara. Que tipo de pessoa arriscaria ir até um lugar onde a lógica era inexistente e o perigo constante apenas para ajudar pessoas que nem conhecia?

Não demorou muito para Nicolas subir até o topo do farol. Junto dele veio uma voz rouca e alegre.

— E é aqui que vocês sempre se encontram?

Logo em seguida apareceu a dona da voz. Ali, com os cabelos brancos e curtos, rosto cheio de linhas de expressão e pontinhos marrons pela bochecha, trajando roupas que pareciam mais adequadas a uma corrida no parque, estava uma senhora. Viu nas mãos dela manchas avermelhadas que lembraram Fernando de algumas semanas atrás, quando Nicolas ligou pedindo lhe curasse de alguma doença que contraiu em um território.

— Sério, cara? Tu trouxe uma velha pra cá?! — Bárbara disparou antes que Fernando pudesse fazê-lo, apesar de que teria escolhido palavras menos ofensivas à pobre senhora.

— Sim, eu trouxe — disse Nicolas. — Esta é Dominique. Ela estará conosco daqui em diante.

— Você deve ser a Bárbara. Nicolas me falou de ti. — Dominique se aproximou sem maldade alguma da esquentadinha. Mesmo com as palavras duras que recebera, esboçava um sorriso no rosto. — Entendo o que disse e eu também estou confusa. — Deu uma risada baixa. — Mas acho que posso ajudar vocês.

A expressão dura de Bárbara aliviou, e quando isso aconteceu, Dominique a cumprimentou com um beijo na bochecha. De forma hesitante, a motoqueira retribuiu.

— E você, nossa, que forte. — Dominique disse ao olhar para Fernando. — Deve fazer sucesso com as mulheres.

— Ééé… — Foi a única palavra que Fernando conseguiu emitir.

Os dois se cumprimentaram com beijos na bochecha. Mesmo no clima mais ameno, não pôde deixar de desconfiar de Dominique. Trocou uma olhadela com Nicolas, e logo foi respondido:

— Dominique é extremamente capaz e acho que será a adição perfeita ao grupo. Assim como eu, ela cuida da ofensiva, dessa forma Bárbara consegue focar em nos proteger.

Fernando arregalou os olhos para a idosa. Como uma pessoa tão carinhosa e de idade serviria para o ataque? Ele não queria vê-la se machucar e ir para o hospital.

— Vou ser bem direto aqui — disse Fernando. — Dominique, tu entendeu os riscos? Não estamos aqui pra fazer algo fácil, pode se machucar de verdade.

— Já sei disso. — O sorriso no rosto dela não sumiu. — Estamos aqui para salvar pessoas e matar monstros. Eu quero fazer isso.

— Tu pode morrer — reforçou Bárbara. — Me desculpe, senhora, não posso te aceitar aqui.

— Mas eu posso ajudar. E eu já vivi bastante, mais que o dobro de vocês, se eu morrer, que seja fazendo algo bom.

— Eu sei que estão hesitantes, porém confiem em mim. — Nicolas se aproximou e colocou a mão no ombro de Dominique. — Eu não arriscaria a vida de ninguém que eu não achasse capaz de contribuir conosco.

— Tu ouve o que está dizendo? — disse Fernando, balançando fervorosamente as mãos para frente e para trás ao lado da cabeça. — Vai mandar uma senhora lutar contra aquelas monstruosidades porque acha que ela é capaz de ajudar?! Não tem coração?

— Somos poucos, temos que aproveitar as oportunidades que aparecem.

Fernando começou a bufar.

— Estamos lidando com vidas aqui!

— Eu sei — disse Nicolas. Ele olhou para os outros e parou com os olhos em Fernando. — Por isso não fizemos nada perigoso de verdade até agora, não tínhamos um grupo capaz de lidar com diferentes situações. Agora temos.

— Que tal assim, nós vamos bem devagar hoje, e se sentirem que eu não sirvo, vou embora — disse Dominique, fitando Fernando sem sorrir. — Não quero atrapalhar.

— Vamos tentar explorar, apenas, ver como trabalhamos juntos e voltar quando der. — Nicolas pressionou.

Fernando alternou o alvo de sua carranca entre o pálido e a idosa. Respirou fundo e fechou os olhos. Se fosse só Nicolas insistindo, daria um jeito de manter Dominique longe dessa loucura.

— Tudo bem, mas quem vai decidir se paramos ou não sou eu. Entendido?

— Sim.

***

No território do metrô, se depararam com mudanças. O vagão parecia mais largo, as paredes e chão, antes limpas e brilhantes, estavam tomadas de ferrugem. A noite chegara e o lago estava escuro. Os prédios continuavam todos ali, mas os letreiros eram irregulares, as luzes piscantes falhavam vez ou outra. Nicolas foi até a janela que dava para o lago e observou em silêncio antes de se virar e falar:

— O território está mudando, crescendo, talvez. Não tinha visto isto antes.

— Quem sabe a gente volta — disse Fernando, olhando de relance para a ferrugem que tomava o teto.

— Cada dia que esse território existe, ele se fortalece e pessoas se tornam vítimas dele. — respondeu Nicolas. — Se não entendermos as mudanças, pode ser ainda mais difícil da próxima vez.

— Por que não avançamos um pouco? Se estiver muito difícil podemos voltar — sugeriu Dominique.

Concordaram e se organizaram na formação previamente estabelecida. Na frente, Bárbara e Dominique, no meio Nicolas e atrás Fernando. Avançaram para o vagão seguinte, desta vez encontrando algumas pessoas. Elas nem prestaram atenção ao grupo e, apesar de não se lembrar com muitos detalhes do território, Bárbara notou que elas tinham algo diferente da última vez. Ao longo da pele e da própria roupa, diversas manchas alaranjadas, semelhantes a ferrugem, permeavam os indivíduos. Em alguns, as manchas estavam focadas nos pés, em outros, nas mãos, mas todos tinham um pouco na cabeça. Pareciam não se importar, mantendo uma reação apática para tudo a sua volta. Onde a marca estava, cabelos faltavam e a própria carne se fazia ausente, criando uma aparência esquelética.

— São mais presentes nos mais velhos — disse Nicolas, perto de seu ouvido.

Bárbara se virou, pronta para empurrá-lo, mas ele já tinha recuado um passo.

— Não faça mais isso! — disse ela, apontando o dedo para Nicolas.

— Tomarei mais cuidado, mas olhem. — Ele levantou o queixo na direção das pessoas. — Quanto mais velhos, mais manchas. Mesmo assim, há exceções, alguns jovens carregam muitas.

— Isso significa algo? — perguntou Fernando, quebrando a formação e ficando ao lado de Nicolas.

Bárbara voltou a fitar os manchados, era a protetora do grupo e não queria deixá-los na mão, porém manteve o ouvido atento para a explicação de Nicolas.

— Territórios são armadilhas para humanos, uma forma dos predadores nos atraírem. Imagino que o local se modele de acordo com a mentalidade das pessoas que o predador visa.

— Mas isso não limita a comida do predador?

— Eles podem não querer todo tipo de refeição — respondeu Dominique. — Igual peixe, você usa a isca certa para a espécie que quer pegar.

— Podemos deixar a especulação pra mais tarde? — Bárbara se virou para os três. — Não dá para ficar a noite toda teorizando e eu tenho que trabalhar amanhã.

Fernando arregalou os olhos.

— Tem razão, vamos logo!

Continuaram avançando pelos vagões. A ferrugem se mostrava presente em cada vagão que entravam. Quanto mais ela permeava a estrutura, mais os passageiros de lá estavam tomados pelas marcas. Bárbara não via muitos detalhes pois manteve o foco à sua frente, não queria deixar nada passar, mas pôde ouvir Nicolas murmurando algumas coisas de vez em quando.

Chegaram em um carro que estava tomado pela ferrugem. Teto, paredes e chão pareciam pintados para ficar daquela forma. O primeiro passo de Bárbara revelou uma estrutura sensível e instável.

— Cuidado, gente — disse ela.

Como sempre, foi na frente, testando o chão antes de cada passo. Quando já tinham avançado um pouco no vagão, ouviu um barulho atrás de si e logo foi tomada por uma estranha sensação de nojo. Virou-se para trás e viu que todos estavam ali. Direcionou a visão mais para o fundo e viu lá uma criatura esparramada pelo chão, se levantando aos poucos.

Chegava quase a dois metros de altura e podia-se contar com facilidade suas costelas. A pele inteira estava tomada pela mancha alaranjada, não usava roupas e lhe faltavam órgãos sexuais. Porém o que mais chamou sua atenção foi a cabeça. Não tinha olhos ou cérebro, era como se uma lâmina fina e precisa a tivesse cortado logo acima do nariz.

Bárbara aprontou-se para trocar de posição quando ouviu outro barulho, desta vez na direção aonde estavam indo. Se virou mais rápido que da outra vez e viu, alguns metros à sua frente, outra criatura no chão. Estava mais perto que a outra, e os murmúrios que fazia chegavam ao ouvido da motoqueira.

— A máquina deve continuar operando.

— Não deixe parar.

— Se esforce.

Ele repetia estas frases de novo e de novo, até mesmo depois de se levantar.

Bárbara se sentia perdida. O que deveria fazer? Avançar? Ficar ali? Ir para trás? A criatura deu passos lentos em sua direção e a motoqueira estava prestes a recuar quando ouviu a voz de Nicolas.

— Fiquem onde estão!

Assim que terminou de falar, uma corda se materializou no ar, enrolada no pescoço da aberração, que logo foi puxada para cima com um solavanco e ficou suspensa, se debatendo. A resistência não durou muito e logo os movimentos cessaram. O mesmo aconteceu com a criatura de trás. O corpo delas escureceu, uma gosma fétido e roxo escorreu, logo em seguida tornaram-se nada mais que pó.

Bárbara soltou a respiração, só então notando que estava segurando-a. Olhou na direção de Nicolas, que ajeitava a corda em seu pescoço. Pensou que, por menos que gostasse de como falava e agia, o homem tinha suas qualidades. Seus olhos se encontraram e ele falou:

— Continue.

Ela olhou para frente, arrependida de seu último pensamento. O babaca insensível nem para falar algo que animasse servia. Deu um passo adiante e parou em seguida. O chão sob seus pés subia e descia em um movimento lento, oscilando como se fossem as entranhas de uma besta. Não tardou para uma fenda surgir alguns metros à sua frente na parede da esquerda. De dentro saiu uma mão esquelética e depois outra, se agarraram nas bordas da fenda e fizeram força para sair, revelando primeiro a cabeça incompleta da criatura, e então o resto de seu corpo esquálido. A coisa saiu da fenda, caindo desajeitada no chão e se levantando em seguida. Bárbara fechou a mão com força, e depois tremeu quando dezenas de outras fendas surgiram ao longo do vagão.

— Atrás também! — gritou Fernando. — O que fazemos?

— Avançamos!

Ouvindo a decisão de Nicolas, Bárbara avançou, abandonando a cautela que tinha antes em cada passo. Apesar de mais e mais criaturas aparecendo a cada segundo, sua lentidão tornava fácil evitá-las.

Enquanto dava um passo à esquerda para evitar uma criatura de braços estendidos, Bárbara sentiu o chão ceder sob seu peso. O repentino desequilíbrio a fez cair para frente, onde uma criatura emergia do chão e alçava as mãos em sua direção.

Um par de pés calçando tênis de corrida surgiram. Dominique chutou a criatura na cabeça, o tronco dela se curvou inteiro para trás e o queixo foi destroçado. Bárbara ainda estava surpresa com a força de sua companheira, pelo menos quarenta anos mais velha, quando Dominique lhe estendeu a mão.

— Vamos, vamos!

Aceitou a ajuda de bom grado e se levantou. Logo estavam de volta na formação e avançando pelo corredor. Dominique lidava com as criaturas que se aproximavam, desferindo socos e pontapés que nem mesmo Anderson Silva seria capaz de dar. Quando notou que as manchas estavam espalhando-se pelos punhos da idosa guerreira, resolveu ajudar também, se limitando a empurrar e chutar os obstáculos. As criaturas eram fracas e leves demais, quase não sentia impacto ao interagir com elas, mas o resíduo que deixavam em seu corpo causava ardência.

Logo chegaram no fim do vagão e atravessaram para o próximo. Não fosse por estar em território de um predador, teria pensado que estava em um transporte normal. As paredes e assentos estavam limpos, na verdade, nunca tinha visto tamanho zelo nas vezes que andara de metrô. Nicolas fechou com um estrondo a passagem entre as divisas.

Conseguiram ver através do vidro na porta a multidão avançando até eles. Nicolas recuou, deixando as mulheres ficarem mais próximas do perigo. As criaturas aproximaram-se da passagem, mas nada fizeram. Após alguns segundos, recuaram, voltando ao meio do vagão e desaparecendo pelas fendas.

— Fernando… — começou Nicolas.

— Já sei.

O líder assentiu e manteve o olhar no carro anterior. Fernando tirou a mochila de entrega das costas e a abriu. Tirou de dentro dois cacetinhos, fumegantes como se recém tivessem saído do forno.

— Isso deve ficar delicioso com uma manteiguinha — comentou Dominique, pegando o pão e abocanhando-o.

Bárbara pegou e comeu sem comentários, apreciava os efeitos da comida, mas achava bizarro botar na boca algo que vinha daquele lugar. Ao contrário do que esperava, o alimento não tinha gosto ou peso no seu estômago, era como se comesse ar.

A ardência que sentia enfraqueceu até o ponto de sentir nada, as manchas recuaram para a ponta dos dedos até desaparecerem. O mesmo ocorreu com Dominique, mas de forma mais lenta, já que as manchas dela chegavam ao cotovelo. Além disso, a vermelhidão que havia desde antes em suas mãos desapareceu.

Viu Fernando esfregando o braço direito enquanto fechava a mochila e notou diversas marcas na mão e antebraço dele. Segurou-o pelo pulso com firmeza, porém sem apertar.

— Passou para ti também. — Olhou para o rosto de Fernando, notando o quanto ele tentava disfarçar uma careta. — Vai ficar bem?

— Daqui a pouco passa. — Balançou de leve a cabeça na direção de Nicolas. — Testamos algumas vezes para ver como eu reagia com ferimentos.

— Testaram? — Bárbara soltou Fernando. — Não sei o que dizer sobre isso.

Ele abriu um sorriso amarelo.

— Nem eu, mas é a forma que tenho de ajudar.

— Não acha que deveria ficar no farol, então? Assim não se expõe tanto.

— Não dá. — Balançou o dedo indicador em negação. — Se fosse hoje, Dominique estaria cheia de manchas quando voltasse ao farol.

— Tu que sabe… — Levantou o olhar para Nicolas. — Ei, vamos continuar?

— Sim, vamos. — Ele se virou para Bárbara. — Parece que aquelas coisas se limitam ao vagão que estão, nem tentaram vir para cá.

— E no que isso importa?

— Como eu disse antes, o território é…

— Eu sei, entendi.

Antes que pudessem seguir adiante, um som estático soou pelo vagão. Em seguida veio uma voz abafada e grossa, falando tão rápido que foi difícil entender a mensagem:

— Atenção! Temos uma emergência em nossa máquina. Quatro estrangeiros querem nos ver destruídos. Contamos com a colaboração de todos para uma rápida eliminação da ameaça.

E então a divisa com o vagão enferrujado se abriu com violência.

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